Alma Colorida
Para si, não era nada. Para os outros, era mais que nada, mas menos alguém que o suficiente para alguém ser.
Procurava, então, preencher todos os seus vazios, recorrendo a meios que nunca eficazmente preencheram os vazios de ninguém.
Quando, em si, o vazio deu lugar à escuridão, viu que, por vezes, não ser nada é melhor do que ser uma negra ilusão.
Cansado de se agarrar ao que não tinha, exausto de ansiar pelo que nunca chegaria, farto de recorrer a maus meios que nunca o conduziam a bons fins, esgotado de personificar quem nunca desejara ser, apegou-se ao que, sendo uma incógnita, era o certo caminho para uma vida abundante em cor.
Hoje, parte de si encontra-se ainda imersa nas trevas. Hoje, partes de quem ele é aguardam ainda por serem preenchidas. Mas, hoje, ele é bem mais do que um aglomerado de negrumes e transparências. Hoje, as mais belas cores compõem também a sua essência. Hoje, ele ama a sua vida. Hoje, a sua alma é colorida.