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Inspiration Lab

união salgada

Vemos aquele namoro, a saudade com que se apartam, a paixão com que se acolhem, e pensamos ver tudo, a imaginação desenhando para lá do alcance dos olhos.
Beijos doces. Lambidelas frescas, de uma delicadeza certa de que se seguirão mais delícias como aquelas. Ternos murmúrios, imperceptíveis, de alcova, duas essências entrelaçadas que saltitam de mão dada pela fofa nebulosidade do onírico, tão inesquecivelmente vibrante que, quando as pálpebras ganham à vontade e se cerram, e a mente produz para si mesma difusas irrealidades, estas parecem ao palpitante sonhador insípidas e tediosas. Profundas imersões nos olhos amados, transparentes com a certeza de nutrirem incomensurável afeto pela alma que abraçam, mostram as reflexões que os espelhos, já empoeirados, almejam, a superior beleza da existência, que não a vê. E arrancam suspiros profundos dos peitos de quem com eles se cruza, levando aguerridos defensores da satisfação com a própria companhia a desejar por alguém somente cuja existência seja capaz de tornar aprazíveis as íngremes encostas do caminho, preferindo, por defeito da lânguida natureza, suportar a dor e exaustão, em prol de canalizar essas energias para retificar a obliquidade mundana.
Mas as coisas da natureza são, por vezes, tão pouco naturais. E caímos no engano de acreditar que o que aparenta ideal na nossa presença se mantém igual quando o nosso olhar pousa noutros cenários. Que mais havíamos de fazer, senão evitar a loucura, ignorar a falsidade que pode existir em tudo quanto há? Percebo agora, numa agreste tarde de dezembro, de fronte para o oceano, que, logo que viro as costas, eles
Afastam-se com a sofreguidão de quem foge de si mesmo e, quando se voltam a juntar, num embate violento, fazem-no porque não querem estar sós à força, e não têm força para apreciar a complementaridade do eu. Rugem, berram, porque o silêncio permite pensar sobre o pensamento através do espesso nevoeiro de incertezas, opacas cortinas que se cerram sobre os olhos de uma mente em dúvida que a deseja superar, mas que duvida sobre como o fazer.
Eles são o mar e a areia. Juntos porque querem de maio a setembro mas, logo que se levantam as toalhas, se entaipam as janelas dos cafés, logo que se calam os vendedores de bolas de Berlim, juntos porque tem que ser. 

Luísa

"No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade." - José Saramago

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