Bip. woof
Bip.
«Não entendo os cães que ouvem o bater da porta da rua, lá do seu cárcere na cozinha, onde ficam cativos horas que são vidas, não vão eles morder chinelos ou salivar nas almofadas, Bip. e ficam loucos de entusiasmo, saudando quem deles "cuida", desfazendo-se em agradecimentos por se lembrarem de dar ao fardo que um dia desejaram cinco minutos de ar fresco, Bip. antes de as luzes se apagarem e começar tudo outra vez.»
Bip.
«Suponho que um dia o cão já foi cachorro, de pernas bambas e olhar leitoso, e então recebia a atenção que a sua puerilidade não sabia valorizar. Bip. Mas ousou crescer, quem diria. E, mesmo finda a obsessão carinhosa, arquétipo da alegria de viver, agora tão idealizada que era quase fantasia, Bip. mantinha-se a esperança no regresso das palavras sussurradas nas noites de trovoada, nas festas que eram paz para a alma.»
O número para o qual tentou ligar...
«E é tão irónico quanto nojento que o alvo de toda aquela desmerecida vassalagem, depois de ter untado o seu ego narcisista com anos de devoção, ache monótono o prazer e deixe o animal que nunca foi de estimação exposto à crueldade das ruas onde não foi criado para viver. Pobre diabo, que sofria com prazer. Como é possível ser-se tão amável, e mesmo assim tão pouco amado?»
...não se encontra de momento disponível...
«Repudiá-lo-iam certamente os seus ancestrais predadores, ao ver a natureza dócil e submissa dos que lhes seguiram, seres que correriam alegremente para o colo de quem os deixou à mercê das circunstâncias, seres que aceitariam de bom grado regressar ao seu cativeiro, viver nas sombras de longínquas, escassas, potentes alegrias que lhes acostumaram a alma a um calor que jamais os confortará.»
...deixe a sua mensagem após o sinal sonoro...
«Estúpidos.»
«Estúpida.»
BIP.