noiva
Nas suas mãos apodreceu
O ramo da laranjeira
Lentamente
Logo que ela pereceu
Juntaram-se os abutres à sua beira
Para a livrar de ser gente
O vestido colado ao corpo
Está encharcado
Mas não de lágrimas de alegria
É carcaça para um morto
É vermelho em branco imaculado
Cheira a sangue, a sacristia
Não foi o quase-marido
Que deu o seu suspiro por terminado
Ele ainda nem chegou
No meio do alarido
O criminoso, realizado,
Já abalou
Cada convidado,
Quando chega,
E ouve a notícia,
Reproduz o recado,
Dando a sua achega,
Coscuvilhando com perícia
Quando se viu sozinho
Quando viu que para ele não olhava
Ninguém
O rapazinho
Foi ver se a encontrava
Foi ter com a mãe
Meter-lhe o dedo na ferida
Para ver se era real
Para ver se era como a de Jesus,
Ou se era como na imagem da Ermida
Um cadáver falso, de cal
Pendurado numa cruz
Os presentes choram
Até o altar se transformar
Num afluente
Mas não demoram
A os seus uivos calar
Para acusar novamente
O destino traiçoeiro
A fé malfadada
Ou um Deus distraído
Que tornou um amanhecer soalheiro
Numa tarde amaldiçoada
Num anoitecer combalido
Pois não há quem minta
Que da mentira não se esqueça
E Decidem então
Ir até à quinta
Antes que o manjar arrefeça
E que lá se parta o pão
E reze alguma coisinha
Entre o camarão e o couscous
E as tostas e o patê
Pela alma que divaga sozinha
Procurando por uma luz
Que não vê