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Inspiration Lab

Dezassete

De primavera em primavera,

Já lá vão dezassete

Nascida numa nova era

Em que tantos erros se comete

Num novo milénio

De pacífico uma ilusão

Um viver boémio

Um respirar com sofreguidão

Vi mestres da oração

Violar para sair

Da sua solidão

E mentir

Sobre a devassidão

Que causaram

Ouvi artistas que, com uma canção,

Me mudaram

Ouvi de inocentes

Encarcerados na cadeia

Soube de gentes e gentes

Injetando na própria veia

O antídoto para tudo

O que há de bom

Esperei ouvir de um mundo mudo

E deliciei-me com o seu som

Vi imbecis

Assumir a liderança

São estes tempos vis,

Mas ainda há esperança

Se o Homem não me conseguiu desiludir,

Esteve lá perto,

O suficiente para sentir

Que nada na Terra bate certo

Gritei para o vazio

Descobri com assombro

Que posso deitar fogo ao frio

E nem ver o encolher de um ombro

Tentei mudar o mundo

Mas foi o mundo que me mudou

Mas não desisto por um segundo

De ser quem mais longe chegou

Hei-de ser nome assente

Na mais esquecida memória

Hei-de orgulhar muita gente

Figurar nos livros de História

Eu não vi muito da vida

E a vida ainda não viu muito de mim

Pois que não me dou por vencida

Até me esquecer de porque luto assim

Fome

É fome

Sempre que me lembro de ti

Vontade que me consome

Que me mata só por si

É morte

Que comigo teima

Uma dor forte

Que por dentro queima

É ardor

Que me leva de mim

Insuportável calor

Mas tão frio, por fim

É gelo

Que me enregela a alma

Mas prefiro tê-lo

Que enfrentar o silêncio, a calma

É o vazio

Tão cheio de nada

Que me deixa por um fio

Que me deixa esfomeada

Fome é sobre ti não ter qualquer pista

E mesmo assim seguir toda a tua ação

Fome é ter-te tão longe da vista

Quão perto estás do coração

Noite

A noite canta

Uma melodia que espanta

Quem não reconhece a tristeza

E não conhece beleza

Como a tua.

Ilumina a lua

A cidade triste

Que ergue escudos em riste

Contra a solidão

E toda a dor de coração

Em que nos vieste deixar

Só lhes resta chorar.

As árvores estão nuas

E o teu nome ecoa pelas ruas

E eu sofro morosamente

Mas aguento decorosamente

As lágrimas que querem cair

Pois não irias sentir

Contentamento

Ao ouvir o meu lamento

Por não te ter nos meu braços

Restam os sorrisos escassos

Trazidos pelo vento

Ou talvez pelo sentimento

De que foste feliz enquanto cá estavas

De que sorrias enquanto batalhavas

A maior luta que havias de conhecer.

Luta que acabaste por perder.

Resta-me sorrir

Por ainda sentir

Os teus braços,

Quentes abraços

Que me confortam a alma

Que me aproximam da calma

O mais que é possível

E é incrível

O quanto podes estar comigo

Ser ainda o meu abrigo

Já tendo ido embora.

Fico agora

Com a ideia

Que me corre em cada veia

A saudade.

Vem a idade

Passam os anos

E nós ficamos

Entregues às memórias

Desses tempos, dessas glórias.

A cidade adormece

E no silêncio até parece

Que reina a paz

A noite que finda traz

Novas dores,

Novos amores,

Novos desafios,

Novos desvarios

Mas a saudade não vai de mim.

Melhor assim.

Quero sentir-te em toda a parte

Não quero esquecer como é amar-te.

Heroína

Eram os cavalos brancos

E as carruagens

Tempos belos, brandos

Que hoje são só miragens

Era um conto de fadas

De príncipes e princesas

Punhamos de lado as espadas

Para discutir as incertezas

Vencíamos dragões

Na nossa história encantada

Não tínhamos complicações

Agora, não temos nada

Os cavalos ficaram cansados

E as carruagens lascadas

Muitos segredos acumulados

Entre histórias mal contadas

Sem ele, fiquei vazia,

Cedi à tentação

De ficar todo o dia

Mergulhada em autocomiseração

Depois vim a a perceber

Que para toda a cinderela há fada madrinha

E que tudo o que tinha de fazer

Era encontrar a minha

Mas ela não aparecia

Procurei por todo o lado

Até que então vi-a,

Num espelho, o meu reflexo projetado

E pensei: porque não eu

Personificar a salvadora que me fascina

Aproveitar a força que a minha mãe me deu

E ser a minha própria heroína?

Luísa

"No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade." - José Saramago

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