perfume
Expiro. Reduzo. Por ti suspiro quando contigo não me cruzo. É sufocante o ar não perfumado pela tua presença. De ti estar privado é receber uma mortal sentença. Que letal vazio, que dor, que tenebrosa cadeia, é tão frio o meu mundo sem ti, sem cor, sem o cândido existir que me incendeia. Felizes aqueles que acalmas com tua milagrosa energia. Sem ti, a mais pura das almas, é eterna a noite, é sonho o dia.
Inspiro. Expando. Do avesso me viro. Nem me reconheço quando em ti estou mergulhando. Absorvo toda a tua existência, não quero que fique qualquer pormenor por assimilar. Cheiro o doce teu olhar, dotado de bondade que admito na tua ausência me faltar. Imerjo na frescura da água de cristal, tão pura como a tua risada, genuína e musicada, que de mim leva todo o mal. Sinto o travo de mel do teu abraço, capaz de transformar em ouro qualquer momento escasso, arrancando do mundo tudo o que nele há de cruel. Cobre-me o aroma a flores da tua única beleza, numa túnica de mil amores. Que fraqueza. Noto o toque leve de pimenta, um calor breve que me alimenta. O ar não tem valor. Serei sempre pobre mendicante, buscando algum do teu amor. Nada pode ser comparado com o teu inebriante perfume. E mesmo que um resquício de ti fique em mim para sempre alojado, respirar-te nunca se tornará um mero costume.
Espero, creio no teu regresso. Tenho o desejo no meu olhar impresso. És vasta em mim, abundante como água salgada. É só teu o aroma da casa onde para sempre quero viver. A maré que vaza de madrugada há-de tornar a encher.