incrível
Há quem diga que ela cheira a limão. Que, do nada, toca aos nossos ouvidos uma bela canção. Outros dizem que se sente no ar. Que vem um translúcido parente até nós, para nos acompanhar. Que algo fica diferente no nosso olhar. Há quem acredite que só entendemos a vida quando ela ameaça terminar.
É preciso ser-se preguiçoso para se estar morto. Nem eu, que detesto desporto, me canso de, em direção às metas da vida, correr! Sou demasiado ocupada para morrer. Ela nunca me apanhará desarmada, nunca me irá surpreender.
Nós não morremos. Não sei para onde vamos, mas não é possível que desta vida muito nos afastemos. E todos disso sabemos. Porque, se acreditássemos verdadeiramente que este percurso tem um fim, não viveríamos nós de maneira bem diferente? Não visitaríamos mais os nossos avós, não abraçaríamos mais os nossos pais? Nós somos imortais. Alguém que grite isso bem alto, se faz favor. Como é que ninguém compreende que só quem tem garantida a eternidade pode desprezar tanto o amor? Nós adiamos porque nunca nos faltará tempo. E o amanhã é sempre garantido, pelo que não há pressa para dizer o que dentro de nós temos escondido. E preocupamo-nos com assuntos triviais porque nos sobra vida, temos tempo a mais.
Eu não quero esperar pelo cheiro a fruta. Não me quero questionar sobre se fiz minha a minha luta. E, no final, tudo o que quero que os meus olhos digam é que levei uma vida sem igual. Eu não quero esperar pelo momento em que tudo estiver a acabar para entender que é mais fraco um coração que apenas bate do que um que consegue amar.
E o que mais quero quando morrer é estar viva. De nada vale respirar se ninguém de mim é capaz de se lembrar quando para a sua vida olha em retrospetiva. Vou provar que tal é possível. Ter um coração que bate e um sorriso que se forma é bom. Mas amar e ser amado, ter nos outros um pedaço de nós guardado? Isso é incrível.