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Inspiration Lab

Afeiçoemo-nos.

Foram mais que muitas as vezes que ouvi dizer que afeiçoarmo-nos às pessoas era uma coisa negativa, pois pelas mais variadas razões elas podem sair da nossa vida e deixar-nos destroçados.
No entanto, não podia discordar mais com esta afirmação. Primeiro que tudo, porque o que somos nós se não estabelecermos relações com as pessoas, algumas delas de elevada proximidade e entrega? O que somos nós sem os amigos, os inimigos, a família, os amores, os desamores? A interação social é algo base para o humano. Sem ela, somos meros seres isolados, sem nos conseguirmos exprimir. Sem conseguirmos comunicar. Sem conseguirmos dar-nos aos outros.
Chega a ser assustador a proximidade que podemos estabelecer com algumas pessoas. Chega a ser assustador o quanto elas sabem. A parte tão grande de nós que possuem. Mas não é mais assustador do que analisar a nossa vida e entender que esta se resume a relações ocas, palavras falsas, camadas e camadas de máscaras protetoras cuidadosamente colocadas. E tudo isto porque tivemos medo de nos aproximar. De ser traídos. Enganados. E, então, preferimos enganar-nos a nós mesmos, convencendo-nos que as relações baseadas em mentiras e omissões em que vivemos são suficientes e muito mais seguras.
Permitirmo-nos ser amados e amar, dar um pouco de nós e receber parte do outro é algo de arriscado, de facto. Com meia dúzia de palavras, com um gesto, uma relação que pensávamos ser estável e segura pode rumar para o declínio. Quer seja ela verdadeira ou baseada na mentira. A diferença é que, quando ela é efetivamente valiosa, causa sofrimento quando termina. E muito. Quando uma relação sem sentido termina, a dor provocada nunca pode ser muito grande, visto que desde início foi demarcada uma distância tão grande que nem nos permite sofrer. Mas também não nos permite ser felizes, ao contrário de uma relação arriscada, sim, mas com sentido.
O que não tem sentido é passarmos a nossa vida com medo de estabelecer ligações mais intensas. Porque quando qualquer relação termina, vai existir sempre sofrimento. Quer seja porque nos sentimos a quebrar, porque perdemos um pouco de nós, porque já não conseguimos imaginar a nossa vida sem aquele que dela partiu, quer seja porque olhamos para trás e entendemos que provavelmente essa relação terminou porque nunca estivemos verdadeiramente nela. Porque mostrámos a nossa máscara protetora e não quem efetivamente somos, quem tanto tememos que os outros saibam que somos. O que separa os dois sofrimentos é o facto de, numa verdadeira ligação, antes da quebra terem existido muitos momentos fantásticos. Memórias inesquecíveis colhidas. E essas, por muitas voltas que dê a nossa vida, ficam para sempre.

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Luísa

"No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade." - José Saramago

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