Vivia na agonia de lidar com a distância. Porque tudo o que ela alguma vez desejara encontrava-se a um passo de si, mas longe de mais. Porque quem ela mais neste mundo amava vivia num mundo diferente do seu. A cada dia, ela enterrava-se mais profundamente na sua tristeza. A tristeza de não poder ter a seu lado quem mais queria. Afogava-se na sua incurável doença a grande velocidade. O seu sofrimento engolia-a, retirando-lhe toda a lucidez. No entanto, quando já a julgavam perdida, algo em si mudou. Talvez tenha sido todo o tempo que passou sentindo pena de si própria. Talvez as muitas lágrimas que derramara tivessem lavado algum do seu sofrimento. Talvez tenha sido uma réstia da obstinada pessoa que fora antes de se ter deixado afundar a manifestar-se. Ela viu, então, que era ela quem construía os muros que a separavam da felicidade. Os muros que a separavam de si. Entendeu que a caminhada em busca de quem era começava quando os dias passados envolta nas suas inventadas desgraças terminassem. Começou, então, a sua luta. Não julgava ser uma batalha fácil de travar, mas ela estava pronta. Iniciou a construção das pontes que ligavam o seu mundo ao de quem a completava. E quando a ponte estava finalmente edificada, atravessou-a, livre dos medos que outrora a teriam parado de prosseguir. E quando pôde olhar nos olhos de quem todos os seus males curava, abriu o seu coração, como nunca antes fizera. Porque antes o receio de ser mal interpretada, de ser julgada, de dizer de mais ou de nada de mais dizer tomavam conta de sim, mas agora já não. E quando finalmente pôde abrir a sua alma perante quem mais amava, compreendeu o verdadeiro sentido de si. Compreendeu o porquê de se ter reerguido quando a vontade de viver parecia tê-la abandonado. Compreendeu que não há apenas dois ou três mundos, mas sim tantos quanto pessoas existem neste mundo. Compreendeu que se esperarmos encontrar alguém que habite no nosso mundo para podermos ser felizes, então seremos eternos infelizes. Compreendeu que tudo o que temos que fazer é ter coragem para deitar mãos à obra e construir pontes entre o nosso mundo e o dos outros e, quiçá, fundi-los. Hoje, os seus mundos são um só, e todos os dias ela abençoa aquele enevoado dia em que se livrou dos mantos de tristeza que a cobriam e decidiu dar uma oportunidade a quem ainda podia ser.
"Mas afinal o teu blog é sobre o quê?" é uma pergunta que já me habituei a ouvir. De cada vez que a ouço, respondo algo diferente. De cada vez que a ouço, tomo alguns momentos de reflexão antes de responder. Durante muito tempo, as minhas respostas não correspondiam a 100% com a realidade. Porém, penso que agora já cheguei a uma conclusão sólida: É sobre mim. Não exatamente sobre mim, mas sobre os meus interesses, sobre o mundo que me rodeia, sobre o meu mundo. Isto pode soar um bocado egocêntrico, mas é mesmo assim. Um pedacinho do meu mundo partilhado convosco. Eu sei que acaba por haver uma certa pressão invisível sobre todo o blogger para se cingir a um pequeno conjunto de temas, mas recuso-me a ceder. Porque é assim, escrevendo sobre tudo um pouco que me sinto bem. O meu blog é como é. Muito variado. Muito eu.
Este blog foi começado como um escape, como algo que me fizesse pensar nas coisas melhores que tenho na vida, uma maneira de descontrair e de me abstrair. Agora tornou-se mais do que isso. É uma paixão. Pensava que tinha criado este blog para me expressar, mas descobri que na realidade estou a descobrir-me com este meu cantinho no mundo da Internet.
Sei que não são assim tantos aqueles que lêem os meus posts, ou que os comentam. Mas, apesar de me dar gozo saber que há (ou pode haver) alguém do outro lado a ler estas coisas que eu escrevo, escrevo este blog para mim. Ajuda imenso, no entanto, receber o apoio e motivação de quem dispensa do seu precioso tempo a escrever qualquer coisa simpática para mim, ou a dar-me uma sugestão, o que quer que seja. Obrigada.
A boa notícia é que tudo acaba. A má notícia é que tudo tem um fim. Os sorrisos. Os beijos. O abraços. As gargalhadas. Os segredos. As omissões. As promessas. As mentiras. As intrigas. As traições. O bom. O mau. O mediano. Os nossos inimigos. Quem mais amamos. Nós. Tudo, acaba. Todos acabam. Tudo tem o seu fim, quer isso nos agrade, quer não. Todos sabemos que, um dia, o nosso percurso chegará ao fim. Todos sabemos que, um dia, os problemas que hoje parecem enormes não serão mais do que pequenas pedras no caminho quando chegarmos ao destino final da nossa caminhada. No entanto, será que temos mesmo essa noção? Esquecemo-nos demasiadas vezes que não somos infinitos, que não somos imortais. Que, até a mais intensa felicidade, até o mais profundo sofrimento, terminará. E, por isso, desvalorizamos os momentos em que somos a melhor versão de nós próprios e não conseguimos ultrapassar os tempos em que mais sofremos. Pegamos nas pedras nos nossos sapatos e, em vez de nos livrarmos delas, acumulamo-as e com elas construímos um muro que nos impede de prosseguir. Que nos impede de continuar. Que nos impede de crescer. Que nos impede de ser quem realmente somos. Não permitamos, então, que o facto de tudo ter um fim nos obrigue a olhar para a vida com os olhos de quem já não se alegra por viver. Porque, sim, somos apenas mais um. Sim, o tempo que temos a nosso dispor, comparado com a idade da casa que todos nós alberga, é um mero piscar de olhos. Mas é o nosso piscar de olhos. E pode ser o melhor de todos. Pode ser um piscar de olhos que mude todos os outros piscares de olhos. Percamos, então, menos tempo com todas aquelas coisas que nos distraem do nosso percurso, que nos distraem da nossa vida, que nos roubam tempo que devia ser dedicado ao que devia ser dedicado. Aproveitemos, então, para cultivar esperança, bondade, felicidade. Aproveitemos para aproveitar. Porque a vida é um piscar de olhos, mas ainda há muito a fazer antes de chegar a hora de ser o nosso olho a fechar.
Ter sonhos, sonhar, é muito importante. Crucial, até. Indispensável se se pretende ser mais. Viver mais. Fazer mais do que apenas sobreviver. No entanto, sonhar apenas é pouco se pretendemos ir mais longe. Sonhar sem nada mais fazer não é o suficiente se queremos fazer mais da nossa vida. É importante que o nosso sonho nos motive. Que ele nos dê energia para enfrentar cada dia com garra, com força, com vontade, com alegria. Que ele nos levante do chão quando o sol para nós não brilha. Mas sonhar não move os mundos que devemos ser nós a mover. Para além de sonhar, é necessário mais. É necessário ter esperança. É necessário ter vontade. Lutar. Prosseguir. Acreditar. Trabalhar. Não desistir. Por mais importante que seja sonhar, se ao nosso sonho não aliarmos o nosso trabalho, a nossa força, a nossa esperança, a nossa crença, a nossa criatividade, a nossa ambição, o nosso sonho nunca deixará de ser só isso, só um sonho. E será que é isso que para nós desejamos? Limitarmo-nos a ter um sonho quando podemos ter mais? Quando podemos ser mais? Limitarmo-nos a sonhar quando podemos viver o nosso sonho?
O que mais custa não é o último adeus. O último beijo. O último abraço. O último olhar antes do derradeiro virar de costas. Não. No que toca a despedidas definitivas, o que muitas vezes mais custa é o que nunca pensámos que mais iria custar. O mais difícil é, sim, o aprender a viver apenas meio vivo. É prosseguir a caminhada sem parte da nossa essência, sem parte de nós. É refazer hábitos e rotinas para tentar eliminar inquilinos indesejados do nosso pensamento. É resistir à tentação de esquecer tudo o que nos fez dizer adeus e regressar para quem tanto nos magoou. Mais difícil do que tudo o resto é, sem sombra de dúvida, ter a coragem de dizer adeus quando o devemos fazer, mesmo sabendo de todas as dificuldades que teremos de ultrapassar, todo o sofrimento que teremos de experienciar. É saber cuidar de quem somos. É saber o quanto valemos. É saber que somos demais para alguém que em nós não vê nada de mais. É saber quando chega a hora de dizer adeus. E é saber aproveitá-la para fazer o que tem de ser feito.
Aproveito a iniciativa follow friday para recomendar um blog que sigo há algum tempo e que adoro: Malik, uma outra forma de poesia. Sempre fui encantada por texto poético e esta página tem, sem dúvida, maravilhosos textos. Entre tantos exemplos de excelente poesia, não é fácil escolher favoritos, mas gosto especialmente do poema 'Onde está a tua mão?'.
Porque, hoje, aquela que sempre critica aqueles que os seus sentimentos evitam verbalizar, poupa-se nas palavras. Porque, hoje, aquela que sempre fala cala-se. Porque, hoje, aquela que sempre tudo expressa, chora sem a sua tristeza mostrar. Porque, hoje, aquela que tudo parece conhecer enfrenta as trevas da vida.
Porque, hoje, espero que a turbulência nas janelas da minha alma seja suficiente para te indicar o quanto necessito de um abraço. Porque, hoje, espero que compreendas o quanto preciso de ti. Porque, hoje, espero que termines com as preocupações que me inundam. Porque, hoje, espero que estejas aqui.
Perante a ausência de palavras que exprimam o que dentro de mim habita, o que tanto me atormenta, espero então que os meus olhos te digam tudo o que deves saber. Porque sempre foste quem melhor me soube ler.
E se morresses amanhã? E se já não te restasse mais tempo para adiar tudo aquilo que deves fazer? E se, de repente, descobrisses que o amanhã para ti não é mais que um sonho impossível de concretizar? E se acordasses um dia tendo noção do que és, do que somos, bombas-relógio que a qualquer momento podem explodir, levando-nos com elas, deixando apenas com aqueles que mais amamos os momentos melhores, os momentos mais intensos, os momentos em que vivemos, os momentos em que, por momentos, a vida é mais do que a própria vida? E se tomasses hoje mesmo consciência da tua infimidade, do quão curta é a tua vida, a nossa vida? Será que continuarias a preocupar-te tanto com o dinheiro, essa maldição que parece tomar conta da tua vida? Será que continuarias e viver numa correria, acreditando que parar é morrer, sem entender que só pára para viver quem viver sabe? Será que ficarias contente por tantas vezes teres adiado aquelas férias que há imenso tempo querias tirar? Será que te conseguirias esquecer do papel com o número daquele velho amigo que já não vês há 5 anos que continuas a esconder dentro das gavetas que raramente abres? Será que te orgulharias de ignorar os sorrisos de desconhecidos que por ti passam? Será que te arrependirias da vida que levas? Será que te arrependirias das conversas evitadas, das palavras poupadas, dos momentos perdidos, da alegria esquecida? Será que te arrependirias de quem és? Será que te arrependirias de ti? E se morresses amanhã, quantas coisas supostamente eternas contigo morreriam?
É essa a diferença entre nós. Tu não consegues esquecer, eu ocasionalmente lembro-me. Tu para mim vens a correr, eu escondo-me. De ti brotam as mais bonitas e sinceras palavras, eu esforço-me para ser delicada. Acredito que fomos feitos para ser livres. Livres e felizes. E esse sufoco em que me colocaste vai contra todas as minhas crenças, vai contra tudo o que acredito que mereço. Porque essa imortal insistência afetou a tua essência. Tornou-te em alguém que não és. Em alguém que nunca quiseste ser. As palavras outrora simpáticas adquiriram um laivo de violência. Entristece-me ver que esta busca desenfreada por algo cuja origem há muito esqueceste afeta quem és. Torna-te em alguém bem diferente e que preferia nunca ter tido a oportunidade de conhecer. Porque quererias tu danificar a tua alma, vingando-te de algo que nunca existiu? Porque tomaste as palavras que não desejavas ouvir como falsas? Porque te forçaste a viver numa mentira que nunca ninguém te impingiu? Porque o meu não nunca foi talvez. O meu talvez nunca foi sim. Sempre soube o que quis, sempre o exprimi. E nunca quis que a história tivesse este fim.
"No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade." - José Saramago