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Inspiration Lab

Protejamo-nos.

Sacrificarmo-nos pelos outros é um gesto nobre, altruísta e honrado. E esse tipo de ação nem me faria tanto pensar como tem feito se não fosse o facto de cada vez mais ser banalizada. É que cada vez mais sacrificamo-nos por pessoas que não valem a pena. Cada vez mais pomos mais e mais pessoas à nossa frente, e esquecemo-nos de algumas coisas bem relevantes.
É que todas as relações, do amor ao ódio, estão na iminência do declínio. Pode ser um pouco assustador se levarmos este pensamento ao extremo, mas é um facto que as nossas relações com qualquer pessoa estão por um fio. O que, no entanto, distingue umas relações de outras, é que o fio que une algumas é quase inquebrável: por mais golpes que leve, parece nunca quebrar. Já outros dão de si com o mínimo abalo.
No entanto, nenhum fio pode ser considerado invencível. Todos se podem quebrar, por muito que seja bem complicado derrotar alguns deles.
E quando digo que nenhum desses fios é invencível, incluo também o que suporta a nossa relação connosco mesmos. Ou seja, também ela é quebrável, por muito que dificilmente.
Sei que pode parecer um pouco egoísta, mas por vezes é necessário pormo-nos primeiro. Porque o que acontece quando colocamos toda e qualquer pessoa à nossa frente e nos esquecemos de nós mesmos, das nossas prioridades, dos nossos desejos e das nossas ambições é que começamos a diferir pequenos golpes no fio que mantém a nossa relação connosco mesmos. E esses golpes ficam mais profundos. Maiores. Destroem-nos, pedaço a pedaço, até já nada mais restar.
Uma coisa é sabermos desenlaçar os fios. Entender por quais realmente vale a pena lutar. E lutar por essas pessoas, se efetivamente são merecedoras dos nossos esforços. Se também elas conseguem colocar-nos como uma prioridade nas suas vidas. E sermos altruístas com esses 'alguéns'. Mas sacrificarmo-nos por quem não o merece? Dar um lugar prioritário a alguém que nem tempo connosco é capaz de dispensar? Isso mata-nos. Destrói-nos.
Pois uma das melhores e maiores lições que aprendi na vida é que não há nenhuma relação mais duradoura e permanente do que a que temos connosco mesmos. Então não vamos arriscá-la por quem não vale a pena. Não vamos pô-la em risco por quem não merece.
Porque quando quebramos a relação que temos connosco mesmos, nós quebramos. E nada dói mais do que entender que já não conseguimos compreender-nos. Amar-nos. Nada dói mais do que ver a nossa pessoa a cair em declínio e sentirmo-nos impotentes. Quando quebramos a relação que temos com o nosso próprio ser, o nosso mundo quebra. E não é fácil reconstruí-lo.
Vamos então proteger-nos. E não arriscar parte de nós por quem não vale a pena.

Obrigada.

Pensava que me prejudicavas, que me magoavas. Detestava-te. Chorava porque me fazias sentir a pior pessoa do mundo. Oh, que parva que era, não fazia ideia. Como não pude eu entender algo tão claro? Como não pude eu ver bem que me fazias? Como não entendi que tudo o que fazias era com o altruísta e desinteressado intuito de me ajudares? Arrependo-me perdidamente hoje de não te ter dado o crédito que merecias. E por isto, isto escrevo. Porque nunca tive oportunidade de te agradecer convenientemente por tudo o que fizeste por mim. E se há coisa que mereces é um agradecimento. E dos grandes. Porque sem ti não era nada.

Obrigada por me dares uma bem distorcida visão de mim própria, que me fez questionar a minha essência e me levou a descobrir quem sou na realidade.

Obrigada por me fazeres duvidar do meu valor, porque tem sido uma agradável surpresa descobrir o quanto efetivamente valho.

Obrigada por teres tentado tirar toda a gente do meu caminho, pois os que ficaram ainda hoje estão comigo. Sem ti não os teria ao meu lado.

Obrigada por me relembrares todos os dias que ninguém alguma vez estaria lá para mim, tem sido uma surpresa agradável descobrir que são tantas as pessoas que comigo se preocupam.

Obrigada por me teres ensinado que na vida sempre teremos muitas pessoas a tentar deitar-nos a baixo e que temos que ser o nosso próprio herói, o nosso salvador, se é de um que necessitamos nas nossas vidas.

Obrigada por me teres ensinado que nem todas as pessoas são boas, que nem todas as pessoas querem o melhor para mim. 

Obrigada por me teres ensinado a resistir, a erguer a cabeça bem alto, mesmo quando tudo e todos pareciam estar contra mim.

Obrigada por me teres ensinado que sou o que sou e que valho e que valho não pelo que fizeste alguém achar de mim mas por quem realmente sou.

Obrigada por teres deixado as expetativas de toda a gente tão baixas em relação a mim, que ainda hoje muitos se surpreendem.

Obrigada por me teres ajudado a crescer.

Obrigada por me teres ensinado a perdoar, mesmo quem não o merece. Mesmo quem nunca sequer desculpas pediu.

Obrigada por me fazeres feliz ao saber que, depois de tantos anos passados, olho para ti bem de cima.

Obrigada por tudo e isto e por muito mais. Se sou quem sou hoje, não há qualquer sombra de dúvida que é a ti que o devo. Depois do tanto que me ajudaste, espero que gostes de me ver brilhar. Mas não serei mal agradecida. Nunca me esquecerei de ti. Nunca me esquecerei da influência que tiveste no meu processo de crescimento pessoal. Só estranho te teres afastado de mim quando os resultados de todo o teu esforço começaram a denotar-se em mim. Espero não te ter desiludido. Fica bem.

 

Desculpa lá, mas já que estamos aqui aproveito para esclarecer uma coisa que há anos me anda a incomodar. Porquê eu?

 

Cura as tuas feridas

O grande problema é que nos convencemos de que as pessoas são substituíveis. Pensamos que conseguimos reencontrar alguém que há muito nos escapou entre os dedos noutra pessoa. Acreditamos que iremos encontrar todas as qualidades que sempre esperámos ver reunidas em alguém no próximo ser que conhecemos. O que não é justo. Nem para nós, nem para quem é apanhado nesta incansável batalha por encontrar alguém que preencha todos os buracos no nosso coração.
Porque com esta atitude, surgem as elevadas expetativas para quem nunca nada nos deveu. Para quem sobejamente nos faz lembrar alguém que em tempos nos fez feliz e que queremos de volta. Para quem parece ser um candidato ideal a pessoa dos nossos sonhos. Então, esperamos que correspondam às nossas expetativas. Que digam as coisas certas, ou pelo menos as coisas que esse alguém especial costumava dizer. Esperamos que sejam doutorados na história da nossa vida quando ainda nem a licenciatura começaram.
E com a expetativas, surge a desilusão. Porque mais cedo ou mais tarde, caímos na realidade. Entendemos. É um balde de água fria que pode ser adiado, mas que um dia acertar-nos-à, quando menos estivermos à espera. E essa desilusão surge quando entendemos que as lacunas que as pessoas deixam nas nossas vidas não são fáceis de tapar. Entendemos que não é quem escolhemos que tapa esses buracos. Entendemos que a pessoa certa para retirar as nossas angústias pode demorar décadas a chegar. E que esse salvador pode até nunca aparecer.
E por causa da desilusão, há o sofrimento. Porque entendemos que nos esquecemos de valorizar as pessoas pelo que elas são, preferindo antes pensar em como nos poderão ser úteis. E porque, mesmo sem querer, abrimos lacunas noutras pessoas porque tentámos forçá-las a tapar as nossas, sofremos. Porque acábamos por arrastar mais alguém para este terrível ciclo vicioso. Porque fizemos alguém ver-se obrigado a procurar a sua cura. Porque fizemos alguém criar expetativas, desiludir-se e sofrer. Porque fomos egoístas o bastante para, conscientemente ou não, atirar alguém para o nosso próprio sofrimento, ao fazer essa pessoa sentir-se menos digna, menor, simplesmente porque não é quem desejávamos que fosse. Porque nos afogámos num mar de ilusão.
E depois do sofrimento, vem a compreensão. Porque entendemos que, se insistirmos continuamente em usar as pessoas como meio de nos fazer esquecer corações partidos e sulcos abertos dentro de nós, nunca ficaremos curados. Porque entendemos que a cura surge no momento em que nos aceitamos. A nós, e aos outros. E entendemos que, se há efetivamente alguém por aí que tenha o poder de fechar todas as nossas feridas, é olhando para ela que a iremos descobrir, e não comparando-a com quem connosco já mais não está.
Mas, mesmo assim, parece impossível não duvidar se o nosso salvador alguma vez chegará. E temos receio que não chegue. E nisso pensamos noite e dia, dia e noite. Até que vemos tudo com mais clareza do que alguma vez vimos. E entendemos que, se não chegar, a nossa vida não parará por isso. Entendemos que ninguém é mais capaz de curar as nossas feridas do que nós mesmos. Compreendemos que é necessária alguma força de vontade e algum autodidatismo. Mas não é, de todo, impossível. E então aí, somos finalmente livres. Porque mais do que aprender a não criar expetativas desmesuradas, mais do que descobrir que na vida só encontraremos pessoas de valor se olharmos bem para elas, e não para o que têm, de onde vêm ou quem podem substituir na nossa vida, descobrimos que não necessitamos de ninguém que nos salve. Que nos cure. Vemos que, com bom esforço, podemos fazer isso nós mesmos. E haverá sentimento mais libertador do que não depender de mais ninguém para fechar os sulcos dentro de nós e poder prosseguir com o nosso caminho?

Erros

Passamos a vida a lamentar-nos de todas as coisas que fizemos e das quais nos arrependemos solenemente. Queremos muitas vezes até apagar o nosso passado, fingir que ele nunca existiu, tal é a nossa aversão aos erros que cometemos nos tempos que já lá vão. Libertamo-nos muitas vezes de quem esteve ao nosso lado enquanto falhávamos, de quem nos viu mais em baixo do que alguma vez pensaríamos estar, porque temos vergonha. Mas temos, principalmente, medo que esses tragam o nosso passado de volta e nos recordem de quem outrora fomos. Essa pessoa terrível, asquerosa e embaraçosa, de quem passamos uma vida inteira a fugir.
Mas um dia, sem se fazer avisar, algo muito estranho nos acontece. Começamos a fazer contas à vida e notamos que o presente, essa vida iluminada e agradável da qual nos orgulhamos, que nada tem de parecido com o que de tão sombrio algures para lá no tempo já vivemos, e reparamos que somos quem somos pelas asneiras que fizemos quando ainda não sabíamos quem éramos. Entendemos que, sem aquelas lágrimas inutilmente derramadas, sem o tempo desperdiçado com pessoas cujo tempo connosco não estavam dispostas a dispensar, não seríamos quem somos hoje. Alguém longe da perfeição, verdade. Alguém mais calejado pelas pedras que a vida tantas vezes lhe atirou. Alguém mais cauteloso por já tantas vezes ter sido traído. Alguém que perdeu a cativante e doce inocência que noutros tempos muitos encantou. Mas alguém que, por força da experiência, não se deixa enganar tão facilmente como outrora já deixou.
E então, caímos na realidade. Entendemos que talvez todas aquelas coisas das quais nos queixávamos não eram erros fatais. Não eram coisas feitas e criadas para dificultar a nossa vida e nos perseguir para sempre. Eram sim a vida a dar-nos a oportunidade de mostrar o que realmente valemos. Porque não há um único ser forte neste mundo que não tenho sido traído, injuriado, negado, gozado. Mas também não há um único ser forte que não se tenha levantado, azamboado pelas abébias que a vida lhe deu, sim, mas mais forte do que nunca, e pronto para não cair nas armadilhas que anteriormente o atraiçoaram.
E assim, sem se fazer anunciar, chega a sensação libertadora. Mas também das mais assustadoras. Porque entendemos que o que antes denominávamos de erros são apenas partes rasuradas e editadas na grande obra da nossa vida. E que sem essas pequenas partes que são depois reescritas ela não faria sentido. Vemos então que, na vida, só nos arrependemos das oportunidades que não agarrámos. Percebemos que, se vivermos no infinito receio de falhar, de ser gozados, de ser ultrapassados, nunca iremos crescer. Denotamos que a vida foi para ser vivida e batalhada. Não contra os outros, mas contra nós mesmos.
E é por isso que há os fortes e os fracos. Os que se conformam e os que continuam a lutar, independentemente dos obstáculos que a vida põe no seu caminho. Porque quando estamos determinados a vencer, as quedas e os tropeções são insignificantes, tão focados que estamos em vencer.
E somos então mais livres do que alguma vez fomos. Registamos toda a falha, toda a queda, todo o contratempo. No museu das nossas vitórias na vida, esses registos estarão ao lado das medalhas e dos troféus, pois se não fossem eles, o museu não existiria sequer. Não haveriam vitórias para exibir.

Ela.

Ela brilha tanto que se ofusca com a própria luz que emite.
Vêem a luz, mas não sabem que é dela que provém.
Querem-na longe, mas sem Ela as suas vidas não estariam completas.
Não querem saber dela, mas quando mais precisam é a Ela que recorrem. É nela que se apoiam. É nela que se inspiram. É nela que vão buscar a força quando já nada dentro deles quer lutar.
Ninguém a defende, mas vê-la lutar sozinha é um martírio.
Sabem tudo dela, mas Ela é o maior mistério.
Parece saber sempre para onde ir, mas tantas são as vezes em que caminha no escuro.
Quando Ela chora viram-lhe a cara, porque vê-la triste é um martírio, mas ninguém a quer consolar.
É a pessoa mais triste em que alguma vez as suas vistas pousaram, mas nunca viram ninguém tão feliz.
Ninguém fala tanto como Ela, mas poucas foram as palavras que já a ouviram proferir.
Mandam-na embora, mas logo atrás dela vão a correr.
Fazem-na sofrer, mas não há ninguém que mais adorem.
A sua vida é perfeita, mas não há ninguém mais miserável.
Adivinham-lhe um grande futuro, mas o que lhe está à frente não parece ser muito promissor.
Ajudam-na a ultrapassar os problemas, mas são eles que os causam.
Subvalorizam o seu talento, mas são os seus maiores apoiantes.
Nunca o mundo conheceu uma voz tão poderosa, mas ninguém liga ao que Ela diz.
Ela dá a cara e vai à luta, como se não fosse a pessoa mais cobarde que já pisou este planeta.
Ela é um fracasso, mas nunca a história conheceu maior heroína.
Mas Ela caminha pela vida, abraçando os seus contrastes, incerta de quem é mas com a certeza de onde quer ir, usando a sua máscara impassível que a esconde e a protege enquanto o mundo ainda não está preparado para descobrir quem Ela é.

Musicalidade: Cansar e Crescer

Como já devem ter reparado, tenho andado muito numa vibe de escrever mais livremente sobre assuntos que me fazem pensar, e por isso achei interessante criar uma "rúbrica" aqui no blog em que me inspiro numa música e a partir dela desenvolvo um texto, redigindo-o a partir da perspetiva de quem canta a música ou a partir de outra que ache interessante. Este, mais a jeito de experiência, foi inspirado em "Dear John", da Taylor Swift. Espero que gostem!

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Luísa

"No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade." - José Saramago

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